Não nos podemos amedrontar.
Vamos até, fazer de conta, ignorar.
E, quem sabe? talvez isto vá passar.
Ignorar, fazer de conta, estar calado.
Não é connosco, é com o do lado,
é burrice pensar que nos não vai calhar,
vai estar ali, bem à mão de nos tocar.
E a senhora com cara de doente
também a voz, monocórdica e dormente,
vai jogando ao faz de conta
e dizendo: "que o caso é de pouca monta."
Estas coisas, só dão aos outros, ao vizinho.
Atacam a malta e o Zé Povinho.
A nós, tende calma, estamos imunes,
deixem-se de lamúrias e queixumes.
O que é facto, mesmo de brandos costumes,
é que uma vida já se foi, desmaiou, já se finou...
já não respira, feneceu e acabou.
Sim, voltemos a repetir até à exaustão:
"É com o outro, com o do lado, fique descansado",
o que se foi, o que já partiu, é passado, coitado...
E a responsável, lá anda nas suas lides,
hoje, não veio explicar-se, anda em campanha
anda ocupada, em corrida, ninguém a apanha.
Na casa de mais de dois milhares por semana,
E o tempo vai de Verão, dias lindos e ensolarados
Quem se chateia com milhares de gajos gripados?
E os planos de contingência, tudo pronto?
"Está tudo preparado, folclore e fanfarra!"
Morrer de gripe?, era o que mais faltava.
Lá mais para a frente, a situação será pior.
Haverá mais gente a sofrer e, se calhar, a desaparecer.
E os 'maiorais' farão de tudo para esconder.
Não era disto que eu queria versar.
Aconteceu, por acontecer, sem fama nem glória,
mas, já que assim foi, que nos fique na memória.
Carlos Menezes