Há uns tempos atrás passei por uma figura que se tornou carismática na minha mente, pois sempre que o revejo, não consigo deixar de sorrir. A "coisa" conta-se numa penada:
Grande superfície. Estacionamento em piso inferior. Corredor de acesso ao piso mais elevado de inclinação suave. Num dos recantos, um Homem de barba hirsuta, cabelo algo rebelde, vestes frágeis e muito usadas e a seu lado, um cão de olhos tristes, vazios. Tão vazios quanto os do dono. Por já me ter cruzado com eles mais que uma vez, sei que o humor tem muito a ver com o homem e, por tabela, com o seu cão. Se bem disposto, aborda as pessoas com um sorriso mais ou menos gaiato; se mal disposto, encerra-se em si mesmo, sentado no chão, sempre com o fiel companheiro ao lado.
Num dia de "aparente boa disposição" abordou-nos, e solícitos, procuramos nos bolsos, alguns trocados para lhe deixar. Quando constatamos que só tínhamos moedas pretas, ou seja, de 5 cêntimos para baixo, algo constrangidos, pedimos desculpa por aquilo que podíamos dar, por ser tão pouco, pela meia dúzia de moedas menores. O Homem, no melhor dos seus sorrisos e do alto da sua estatura retorquiu: "Deixem lá, fica para a próxima!"...