24 agosto, 2009

Corpo chupado...!

"Corpo chupado e pontiagudo..."

São frias as suas mãos,
 são gelados os seus olhos,
é crispado o seu sorriso,
feito num esgar.
 É almiscarada a sua pele,
 é vaga e longínqua, a expressão do olhar.

 Grande alvoroço nos cabelos.
Num rosto de traços vincados,
 sobressai um nariz pontiagudo,
 que aponta o infinito da paisagem.
 Que é árida, desnuda, desértica.
 Uma utopia de ventos, na aragem.

 Há naqueles olhos vários tons,
 de vermelho sangue a azul céu,
 como que percorrendo um caminho sem fim.
E, no entanto, em vez dum sorriso,
 há pranto, e lágrimas na face...,
 Que escorrem doidamente..., sem siso.

 É que, onde se não come,
 há tanta fartura..., de fome!
À mingua..., sobram na boca,
 gotas de nada..., na língua.

 No olhar baço,
há palmeiras açoitadas na brisa,
 que se entrelaçam num abraço.

E chovem,
de dia, chuvadas,
e caem à noite..., orvalhadas.

Enxuga pérolas de água,
tão choradas...,
são gritos de mágoa,

 Limpa o rosto,
daquela água salobra,
 suada... e sem gosto...

Tem um olhar,
faminto e sózinho...,
Está entre nós a gritar.

Arfa as narinas, bebe do ar, come tuas sinas...
 E por mais que o queiras,
esquece..., "tuas" eiras sem beiras!!!
 


Carlos Menezes

2 comentários:

  1. Carlos,

    Muitos parabéns pelo blogue:-)

    Gostei e apreciei profundamente o poema "Corpo Chupado...!".

    Fui apanhado pela estória do "Tomara que caia" no SPNI e achei por bem contrapor esta cena "nua e crua" de tantos de "nós" sem férias e sem bons nacos de prosa.

    Tomara que caiam tantas ingenuidades que ajudam a disfarçar tanta miséria humana, que sabemos existir, mesmo nas nossas costas.

    Bem haja!

    zeka

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  2. Caro Zeka,

    Muito obrigado pela visita e pelo favor das suas palavras. Como diz, e bem!dá que pensar tantos de "nós" sem férias, sem prosa e, se mo permite, sem tempo para a ingenuidade... resta "curtir" a miséria com dignidade, se é que tal é possivel!

    O meu abraço.
    Carlos Menezes.

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