12 abril, 2014

Uma vida..., num sopro!

O melhor dos meus anos já se foi, já se diluiu no tempo de forma absoluta e definitiva.

Depois do milagre do nascimento, começa de forma inexorável uma contagem decrescente que nos levará rumo ao fim. O curioso é que não nos damos por nada, senão quando a primeira debilidade nos aparece. Aí nos apercebemos de que as coisas já não são como eram. Pela primeira vez, algures na vida, olhamos para trás com os olhos cheios de nostalgia das coisas já idas, das coisas passadas, das que não voltam mais...

Cheguei ao tempo de sentir que me escasseia esse tempo. De ter tempo para as coisas que ainda não fiz. O tempo, esse "relógio" inexorável da vida cujos ponteiros não param nunca, corre veloz por entre as memórias do que somos, do que fizemos mas, e sobretudo, corre veloz em relação àquilo que ainda não fizemos. O tempo, de cuja passagem nem sequer nos damos conta, de repente, num sopro, ei-lo tudo comandando à nossa volta, acorrentando-nos, petrificando-nos, não nos permitindo a sua reinvenção...

Talvez por isso, a minha paciência é uma sombra daquilo que era. Talvez porque eu sinta que o meu tempo se escoa, se esvai por entre os dedos, se esfuma no espaço, se esboroa... Há que aproveitá-lo no seu todo e de forma consistente..., vivendo-o..., sentindo-o por inteiro, chorando por vezes, gargalhando noutras...

Por isso,
sinto que já não tenho tempo para aturar burrice,
escasseia-me o tempo para suportar intolerância,
falta-me o tempo para aguentar prepotência,
falta-me o tempo, para ter tempo, de dar tempo... ao tempo.

Assim mesmo, no meio desta aridez do tempo que foge de nós, que se esfuma,
já não tenho tempo para aguentar desconsideração, ou falta de educação;
morre-se-me o tempo quando lido com negligência ou falta de competência;
já não tenho tempo para suportar vizinho animalizado, ou familiar agastado;
Já não tenho tempo, para aturar peão burro que se exibe na passadeira,
nem tenho tempo para escutar lamúria falsa, de falsos "sem eira nem beira";
Falta-me o tempo para entender a educação do meu País,
e a justiça tão injusta que iliba gatuno e condena meretriz.

Pois é..., falta-me o tempo para essa luta que há que travar
contra esta adversidade grande, de já não ter tempo,
para fazer no tempo, tudo aquilo que do tempo nos vem.

Encurta-se-me o tempo a cada dia que desmaia no meu calendário de vida;
A vida, essa coisa maravilhosa que Deus nos deu, corre em tropel, a galope, veloz...,
Os dias sucedem-se febris e escoam-se em madrugadas acordadas,
Os que amo estão comigo e eu com eles, enquanto o meu Deus quiser.

Por entre gentes que por mim passam e que nada me dizem,
Olho em redor, à procura de um alguém que não conheço,
Emaranho-me na multidão, abstraio-me na confusão
E perco-me aturdido, por ainda estar vivo, por ainda me não ter ido...

Tempo, tempo, este desconsolo que me invade
Por não te ter todo aproveitado, por já estares meio escoado,
Agarro-me a ti, ora com frenesim, ora desinteressado
Mas, que fazer, oh Deus? se já estás quase esgotado...

Para ti!...

Se cá estivesses ainda, hoje seria dia do teu aniversário. Não sei que te diria, como não sei também como estarias no que concerne ao aspecto saúde, o que sei é que quereria muito falar-te, dar-te o meu abraço de parabéns e deixar-te um beijo de ternura. Tal não é possivel, como não o tem sido desde há 25 anos, altura em que rumaste ao Céu.

Daqui, para onde quer que estejas a velar por nós, aqui fica o meu beijo de saúdade!