Custa-me ainda a acreditar, quase oito dias volvidos. Continuo boquiaberto de espanto, e blasfemo alguma raiva por ter impressas na minha memória, imagens inacreditáveis que jamais equacionei serem possíveis neste meu Portugal, naquele meu Alentejo que adoro... É uma visão lunar, parece um sonho terrível tirado de uma outra paragem, de uma outra galáxia.
Por mais que tente e teime, não consigo apagar dentro da minha cabeça, as imagens aéreas daquela escassa língua negra que mais não era, sei-o agora, que uma estrada; estrada que parece estar sempre em iminente desagregação perante a monstruosidade do tamanho e da fundura daqueles buracos gigantescos que se sucedem uns atrás dos outros.
Por incúria, por incompetência, por ignorância, por desleixo, pela mais elementar falta de preparação para a ocupação de cargos públicos que acarretam consigo - ou deveriam, pelo menos - responsabilidades, a feitura de procedimentos prioritários e obrigatórios, há com certeza, gente que está em cargos, e neles continua, que tem que ser, imediata e liminarmente, responsabilizada. E, quem de direito, faça-o depressa, pois as escarpas e as muitas toneladas de rocha que estão em suspensão, como que presas por um fio, podem vir a matar mais gente que se encontra lá no fundo, que não tem culpa nenhuma dos erros e das omissões graves, dessa chusma de miseráveis à solta.