25 novembro, 2018

Exonere-se a incompetência

Custa-me ainda a acreditar, quase oito dias volvidos. Continuo boquiaberto de espanto, e blasfemo alguma raiva por ter impressas na minha memória, imagens inacreditáveis que jamais equacionei serem possíveis neste meu Portugal, naquele meu Alentejo que adoro... É uma visão lunar, parece um sonho terrível tirado de uma outra paragem, de uma outra galáxia.

Por mais que tente e teime, não consigo apagar dentro da minha cabeça, as imagens aéreas daquela escassa língua negra que mais não era, sei-o agora, que uma estrada; estrada que parece estar sempre em iminente desagregação perante a monstruosidade do tamanho e da fundura daqueles buracos gigantescos que se sucedem uns atrás dos outros.

Por incúria, por incompetência, por ignorância, por desleixo, pela mais elementar falta de preparação para a ocupação de cargos públicos que acarretam consigo - ou deveriam, pelo menos - responsabilidades, a feitura de procedimentos prioritários e obrigatórios, há com certeza, gente que está em cargos, e neles continua, que tem que ser, imediata e liminarmente, responsabilizada. E, quem de direito, faça-o depressa, pois as escarpas e as muitas toneladas de rocha que estão em suspensão, como que presas por um fio, podem vir a matar mais gente que se encontra lá no fundo, que não tem culpa nenhuma dos erros e das omissões graves, dessa chusma de miseráveis à solta.

Estivadores precários há anos e anos

Desde 5 do corrente que estão parados, estão em luta por melhores condições de trabalho. Não são trabalhadores normais, iguais a todos aqueles que têm direitos; não, são "precários", são filhos de um Deus menor, são trabalhadores a recibo verde, que trabalham por convocatória via 'sms'

Estamos a falar de gente, de homens e mulheres com Família e com responsabilidades. Estamos a falar dos Estivadores do porto de Setúbal e da 'Operestiva', empresa que assume que, dos 93 trabalhadores precários de que se vale para enriquecer, não pode meter no seu quadro empresarial mais do que um terço. Assim sendo, porque está no mercado?

Lamentavelmente, falamos de um flagelo social que chegou até aos nossos dias mas que provém de há décadas. Contratam-se (?!) pessoas para trabalhar, ou, melhor dito, contratam-se pessoas para serem sujeitas a uma nova forma de escravatura, em que mais não resta, aos desgraçados sem trabalho, que não seja aceitar, baixando a cerviz, engolindo o orgulho e a dignidade, suportando, enfim, o inferno, às mãos de tantos empresários sem escrúpulos.

Depois vem o sistema e permite a contratação extraordinária de trabalhadores estranhos àquela estrutura portuária, furando assim o legal direito à greve consagrado na Constituição Portuguesa. Polícia de intervenção a rodos - que teve actuação segura, calma e adequada -, para garantir que ordens superiores fossem levadas à risca. Para um País que está de vento em popa, segundo a governança cá do sítio, mais palavras para quê?