Temos um novo Ministro da Educação!
Fernando Alexandre, este é o seu nome, é um homem bem diferente, para melhor, de todos os seus antecessores dos últimos vinte a vinte e cinco anos, quer tenham sido homens, ou mulheres. Propôs-se "corrigir" paulatinamente, os erros acumulados durante anos a fio pelos tais antecessores de pouca, ou nenhuma valia. Pelo menos, tem ouvido, tem recebido os seus interlocutores, o que por si só, já é digno dos maiores encómios.
Subsiste no entanto, porém, a carência de Professores, pois como é sabido, Professores não se compram no hipermercado, nem se concretizam da noite para o dia, por um qualquer ajuste directo. Há que "os fazer", há que os preparar condignamente, há que incentivar os mais novos a entrar na carreira, mas para isso, há que tornar a tal carreira mais atractiva, quer monetária, quer socialmente.
Ora, tendo por fundo a máxima acima mencionada, fácil é notar esta gritante falta de Professores. O Governo, pela mão do seu Ministro que tutela a área da Educação, prepara-se para combater com unhas e dentes esta recorrente carência de tais profissionais no início de cada ano lectivo. E, para tal, "escuta-se", ou presume-se que possa vir a alterar as regras do jogo.
Escutou-se que possa estar na cabeça do Sr. Ministro minorar a falta de professores, atribuindo-lhes mais horas lectivas, em cima daquelas que até aqui, sempre foram consideradas as legalmente atribuíveis - e suportáveis! - de um qualquer horário completo: isto é, 22 horas lectivas! Se a estas, podem corresponder entre 8 e 9 turmas, e se cada turma tiver, 22-24 alunos, fácil é verificar que um Professor com um horário deste quilate (completo) tem entre 190 a 200 alunos... Quantas aulas para preparar? Quantos testes escritos para elaborar? Quantos testes escritos para corrigir? Quantos testes auditivos (listening, no caso das línguas) para avaliar? Quantos testes diferenciados para inventar, tendo em vista, alunos diferentes, com diferentes capacidades intelectuais e motoras, os denominados alunos com necessidades educativas especiais? E quanta indisciplina para suportar, para participar por escrito, quantas reuniões com encarregados de educação para minorar estragos e quantas partipações à CPCJ para elaborar, nos casos ditos mais bicudos?...
Se a tudo o que acima ficou exposto, o Governo vier a autorizar que as Direções Escolares possam atribuír a um qualquer Professor contratado mais 5 ou 10 horas lectivas, isto poderá significar não um horário completo, mas sim um horário e meio. Vamos reduzir, com tal medida, ao número de alunos sem Professor no arranque do ano lectivo?... Se calhar vamos, mas, a que preço, com que custos emocionais, sociais e de saúde para os profissionais da Educação? Será que quem tiver um horário completo numa Reserva de Recrutamento, ao apresentar-se na Escola onde foi colocado com 22 horas lectivas, se o respectivo Director lhe comunicar que o seu horário está acrescido de mais entre 5 a 10 horas, isto equivalerá a ter entre 55 a 100 alunos mais a acrescentar aos tais 190/200 de que falamos acima. E, será que alguém que tenha cerca de 290-300 alunos para leccionar, tem vida própria, tem direito a dormir, tem direito a ter um fim de semana como os outros, será que tem direito a ter Família, será que tem direito a ter filhos e poder olhar por eles, será que tem direito a vê-los crescer??? A vida não pode ser só trabalho e mais trabalho. Então e os que nos rodeiam, os que amamos, os que estão à nossa volta, não há sequer tempo para um olhar, um afago, um diálogo, por curto que seja?...
Se este fôr o caminho, será a exaustão, o esgotamento, será a doença, o aniquilamento puro e simples de quem lecciona por vocação, por amor e dedicação, mas que, não aguentará muito tempo no activo se vierem a impor-lhes este ritmo infernal. Vêm aí muitas baixas por doença, vêm aí Professores exauridos intelectual e psiquicamente, com as devidas consequências. Se este fôr o caminho para emendar os erros de décadas que têm vindo a ser acumulados, então cada vez teremos menos Professores, então a montanha vai parir um rato e os resultados, ditos expectáveis, vão ser a desgraça de muitos profissionais em termos de saúde, e será mais uma machadada num sistema Educativo, que se fôr por aqui, rumará para a falência total!...
Esperemos que impere o bom senso e que o Sr. Ministro que parece ser um Homem de bem, pensante e lógico, esperemos, repita-se, que se não peçam/exijam mundos e fundos a quem já não tem muito mais para dar!